Reflexão do Evangelho de São Lucas 15,1-32
- franciscanasdeassi
- 14 de set. de 2019
- 3 min de leitura

Mais do que em outros domingos, a celebração de hoje nos leva ao coração de toda a Boa Nova. O filho perdido e reencontrado – Jesus, faz irromper no mundo de hoje a verdade mais profunda de seu Deus e nosso Deus, de seu Pai e nosso Pai: a misericórdia divina.
A misteriosa figura do filho mais novo
A parábola começa narrando a desventura do filho mais novo que, um dia, procura o pai, solicitando-lhe a parte do patrimônio que lhe cabia por herança. É o desejo, o impulso da natureza para alcançar a maioridade, a autonomia – o viver por si e para si: o viver autocentrado, na sua “autoreferencialidade”, diria nosso papa. Não percebe, porém, que esta sua atitude se constitui não apenas no rompimento e separação com sua origem, mas, na morte, em seu coração, do próprio pai. O pai, porém, em vez de ciumento é generoso. Prefere negar-se a si mesmo a fim de deixar-ser o manancial que Dele emana: sua cria, sua criatura, o seu filho (o homem). Deus franqueia o caminho do homem, mesmo quando este caminho leva o homem para longe Dele.
Recebida a herança, o filho mais novo “partiu para um lugar distante onde esbanjou tudo numa vida desenfreada”. A separação de Deus não se dá pela distância de lugares, mas pelo distanciamento do afeto, do coração. Separar-se de Deus é romper a familiaridade com a origem, com a vida fontal, o Pai. Mas, assim como o manancial não pode subsistir se romper seu vínculo com a fonte.
Um Pai cujo nome é Misericórdia
Depois de descrever a desventura do filho mais novo a parábola passa a falar do pai acentuando que, quando o filho “ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos”. A parábola repete uma das constantes de toda a Sagrada Escritura: Deus vem ao encontro do homem pecador, de coração contrito e humilde. E não poderia ser diferente. Pois, como poderia um Pai não correr ao encontro de um filho desventurado que humildemente retorna para sua casa!? Como não abraçar e não beijar com amor visceral, com afeto irresistível, sua própria cria, sua criança, seu filho? Por isso, diz o Papa Francisco: “Misericórdia é a atitude divina que abraça, é o doar-se de Deus que acolhe, que se dedica a perdoar” (p. 37). Deus não pode negar-se a si mesmo (cfr. 2 Tm 2, 13). Não pode não nos amar, pois não nos amar seria ir contra sua própria essência, sua necessidade mais visceral, uma vez que Deus é amor. “Você pode renegar a Deus, você pode pecar contra Ele, mas Deus não poderá renegar-se a si próprio, Ele permanece fiel”, diz o mesmo Papa (p. 38).
A misericórdia, o abraço e os beijos do Pai testemunham assim, a mesma loucura e fraqueza de Cristo na Cruz, o “Rosto da Misericórdia”. Uma fraqueza que cria e recria. Ao perdoar o filho, o pai o cria de novo devolvendo-lhe a semelhança divina que havia usurpado e esbanjado, restituindo-lhe a dignidade de filho querido e não de empregado ou servo.
Conclusão
“Diante de uma humanidade ferida, uma humanidade que possui muitas feridas” (Papa Francisco) ou começamos a reconstrução com o remédio da misericórdia ou continuaremos distanciados, divididos e perdidos sem jamais podermos celebrar o júbilo do retorno à nossa origem comum, sem o júbilo do reencontro conosco mesmos, com os outros e muito menos com o nosso Pai comum, “o Pai das Misericórdias” (Santa Clara).
“Sede misericordiosos como vosso Pai do Céu é misericordioso! ” (Lc 6,36).
Fraternalmente,
Marcos Aurélio Fernandes e Frei Dorvalino Fassini
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